Segunda-feira, 16 de Abril de 2007
Crescer é muito complicado... e duro! E eu que o diga, que aprendi tudo, ou quase tudo, à minha custa! Às vezes chegou mesmo a ser traumatizante! As vezes que eu tacteei à procura do caminho certo! Os medos que eu tive, os erros que cometi sem orientação prévia... e em situações tão básicas, e de que me arrependo, embora saiba que nunca as voltaria a cometer e que foi tudo imaturidade do momento. Mas aprendi e nunca mais esqueci... só por isso valeu a pena. E mais vale aprender em criança do que em adulta. Mas se as crianças forem desde sempre acompanhadas, muita situação traumatizante pode ser evitada. Não foi isso que aconteceu comigo ou com o meu amigo de infância, o "Vences"... Lembro-me tão bem do Carlos Manuel, que, tal como eu, andava sempre a ser repreendido! O Carlos era filho de pais separados e os meus andavam tão entretidos a discutir um com o outro que era um alívio para mim, quando me esqueciam. Agora penso no percurso semelhante que tivemos! Andávamos ambos perdidos, mas não éramos maus cachopos, o que parece ter passado despercebido a alguns adultos que conviviam connosco. Lembro-me dele em plena adolescência, um jovem moreno de cabelo negro liso, comprido que lhe emoldurava a face de vivos olhos castanhos, alto e elegante, cm aquele andar cambaleante tão típico dos adolescentes, com a minha insegurança e os meus medos e imaturidade... e os mesmos disparates que irritavam os adultos! Sabes quando me senti amadurecer, Carlos? Foi naquele momento em que uma amiga nossa de infância foi chamar o pai dela para ralhar contigo, porque fizeras algo, já nem me lembro o quê... naqueles momentos em que ficámos os dois sós, eu senti pena de ti, do teu gesto desamparado e incomodado... E então percebi! Tu tiveras um daqueles gestos que muitas vezes nos transcendem, e que nem sabemos explicar como aconteceram... mas que, para azar nosso, acontecem. "Porque é que fizeste fisso? Agora ela vai contar ao pai dela...", admoestei-te, ao que me respondeste aquilo que eu já sabia, que nem sabias porque fizeras isso e que estavas arrependido. Nos momentos que se seguiram à nossa troca de palavras, entreolhámo-nos profundamente, sentindo-nos bem os dois na presença um do outro. Nunca me sentira tão perto de alguém em toda a minha vida! Nunca me sentira tão bem junto de ti. Enquanto falávamos tive a nítida sensação de que o pai dela ouvira a nossa conversa da janela do quarto dele, virada para a estrada, onde nos encontrávamos, e tive a certeza quando me virei e o vi arrastando os pés na nossa direcção. Já havia sido tudo dito e ele compreendera isso, mas viu-se obrigado a dizer alguma coisa... e não foi tão duro como das outras vezes era contigo e comigo, lembras-te? Eu também me antecipei defendendo-te dizendo que já te arrependeras do que fizeras... mas eu não contava e ele falou na mesma. Foi nesse momento que algo em mim amadureceu e julgo que em ti também. Já não éramos os mesmos adolescentes de há uns momentos atrás! Amadurecêramos, e foi tudo tão depressa, tão suave, como o fruto que na véspera está ainda verde, mas que se colhe maduro no fim do dia seguinte cheio de sol... Conseguíramos os dois, querido amigo, naquele singelo momento, aquilo que os adultos sempre se esforçaram para conseguir de nós! Passado pouco tempo, morrias atropelado naquela estrada de duas vias, a que chamávamos "autoestrada"!
Amo-te, meu querido amigo, e amar-te-ei até ao fim dos meus dias!


publicado por fatimanascimento às 20:48
Domingo, 25 de Fevereiro de 2007
Desde que me lembro, várias pessoas, ao longo da minha infância, adolescência e parte da juventude, colocaram-me, por várias vezes, esta questão. A primeira delas foi a minha mãe, que ficara impressionada com a determinação de uma criancinha que, ao ser-lhe colocada esta cíclica pergunta, na sua presença, respondera categoricamente, que queria ser médica, e como, para ela, era assim que estava certo, uma criancinha de cinco ou seis anos, já saber o que queria ser quando crescesse, resolveu tentar comigo! Ao colocar-me tal questão, eu não soube responder… nem sequer tal me passara pela cabeça! Então, ela resolveu alargar-me os horizontes: médica, advogada… sobretudo uma destas duas carreiras (embora o meu pai pugnasse pelo Direito). Pois… mas nem uma nem outra me seduziam! Mas não disse nada e, quando me colocavam a já habitual questão, eu já papagueava a resposta ensaiada em casa… acho que cheguei até a acreditar nisso, depois de repetir tantas vezes a mesma resposta. E, quando era apanhada de surpresa, eu respondia a primeira que me vinha à cabeça. Ora, no terceiro ciclo, as minhas notas variavam mais que as acções da bolsa e tanto tirava boas notas nos testes como más…dependia da atenção e do trabalho realizado, mas sobretudo tinha a ver com a forma como eu reagia interiormente a factores externos, sobretudo aos afectivos e emocionais. Assim que cheguei ao nono ano, e depois de ter chumbado uma vez neste ano de escolaridade, a minha professora de Matemática aconselhou-me (e muito bem!) a optar pelo curso de letras… e lá se foi o meu sonho secreto de adolescente de ser astrónoma! Nunca o confessara aos meus pais porque sabia que, para eles, não era suficientemente prestigiante! Ouvia-se falar mais de médicos e advogados a quem, sem excepção, se tratava por "sr. doutor"...
De facto, nunca tive uma ideia certa do que queria ser ao longo da minha vida, e as opções iam desde vendedora numa loja a uma carreira universitária, mas nunca dei muito valor a isso! Estava a descobrir-me e não tinha pressa nenhuma de pensar nisso a sério! Ao que eu dava valor era às minhas paixões: descobrir aquilo que mais gostava de fazer em determinada fase da minha infância, adolescência ou juventude e dedicava-me à leitura ou a observar como era determinada profissão de carácter mais prático. No secundário, eu tinha três grandes paixões que eram a História, o Inglês e a Filosofia, o que dificultou ainda mais a minha escolha! Finalmente, e depois de algumas hesitações e outras fortes condicionantes, optei pelas Línguas e Literaturas Modernas. Mas foi um acaso... (E eu que gostava dos cursos universitários à americana ou à australiana que permitiam aos universitários escolher as cadeiras que queriam estudar!) Quando penso nos meus pais, eles só têm razão num aspecto: as profissões que eles me apontavam são, ainda hoje, as que mais ganham e, se o dinheiro não é tudo (e não é!) dá jeito a quem tem pouco e estudou tanto!
Hoje, eu compreendo a posição dos meus pais e das outras pessoas que agiam (e agem ainda!) como eles. No entanto, eu, como mãe, deixo aos meus filhos a liberdade de se descobrirem primeiro como pessoas, aconselhando-os contudo a trabalharem sempre, mesmo que não tenham em vista ainda o que querem fazer quando crescerem. Também lhes ensino que não há empregos melhores do que outros, e que ao escolherem uma profissão, devem ter a certeza de que é isso que querem fazer, ver se essa profissão os faz felizes e se lhes permite ganhar o suficiente para se manterem e à família que constituirão. É para isso que eu alerto os meus filhos… não os aconselho a tirar um curso superior, (também não os desaconselho!) e se o fizerem e não arranjarem emprego, aconselho-os a que olhem à sua volta e vejam as oportunidades que existem) e se quiserem aprender uma profissão e, se forem bons nela e tiverem cabecinha, que se estabeleçam por conta própria! É o conselho que dou aos meus...


publicado por fatimanascimento às 09:46
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