Terça-feira, 29 de Maio de 2007
Olho o meu pai com ternura, registando dele tudo aquilo que ele não era outrora... os passos hesitantes, o equilíbrio frágil, o tremor acentuado das mãos, o corpo encolhido e mirrado, rodeado na cintura por um cinto muito apertado à volta de um cós largo, as costas ligeiramente arqueadas, a cabeça coberta por uns cabelos brancos resistentes que lhe encobrem pequenas superfícies de pele luzidia que reflectem a luz solar, a pele enrugada, os olhos meigos, atentos e inteligentes, a voz frágil, calma e hesitante, denunciando as confusões mentais que lhe perturbam o espírito, a audição e o olhar gastos pelo tempo como se nada para ele constituísse uma surpresa já, as atitudes revelando a necessidade de ajuda e de uma outra presença física por perto, o alheamento frequente ao que o rodeia, a memória que o vai traindo, a teimosia infantil, o desprendimento, a reacção lenta, a atrapalhação e o pânico patenteados até nas situações mais simples, o espírito curioso e recto que o faz devorar O Correio da Manhã ainda diariamente, nos momentos lúcidos, a paz que se desprende de todo o seu ser, a sua entrega total, cândida e curiosa às situações desconhecidas que se lhe deparam, tornam-no vulnerável como uma criança num mundo agressivo e violento... dá vontade de o proteger! Olho para trás e lembro-me deste homem outrora e do que ele representava para mim e da importância da presença dele na minha vida... enquanto criança, adolescente e jovem. Enquanto criança, tenho poucas imagens dele gravadas na minha memória, tenho uma em particular, dada a gravidade da situação. Lembro-me de, uma tarde, subirmos lado a lado a ladeira dos canitos e, ao chegarmos ao topo, para fugir ao inusual tráfego intenso dessa hora, atravessámos na curva e tentámos, a custo, lutar contra o fluxo do trânsito que se aproximava, na curva, perigosamente de nós. A dada altura, apareceu uma camioneta que nos ia esmagando contra o alto muro que desenhava a curva. O meu pai, aflito, percebendo o erro que cometêramos, pegou em mim, que ia à sua frente, encostou-me àquela imensa parede áspera e tapou-me com o seu corpo, deixando o espaço necessário como se tentasse, desse modo, afastar aquele longo e pesado veículo de mim. O seu amor por mim nunca mais esteve em causa... O primeiro contraste flagrante é a altura... Lembro-me de um homem alto, de cabelo escuro semeado, desde muito cedo, de cabelos cinzentos, uma face simpática e agradável, independente, inteligente, com uma vida interior intensa e imensa, na qual se refugiava nos momentos de lazer, mesmo quando parecia dormitar, aventureiro, com sentido de humor, de uma rectidão moral vincada herdada do seu pai, e que me foi transmitida nos genes... insatisfeito, ouvinte calmo e atento, orgulhoso, generoso, leal... revoltado com as injustiças próximas e distantes, inimigo da mentira, concentrado no que fazia... uma fonte de força e segurança, uma pessoa com quem me entendia, embora, por vezes, se abrisse diante de nós o fosso da diferença de gerações, apaixonado naquilo que defendia e facilmente irritável quando percebia a resistência a ideias tão simples e fáceis de entender... o homem a quem devo aquilo que sou e como sou, o homem que sempre acreditou em mim e me apoiou, mesmo quando as dúvidas o assaltavam e o levavam a hesitar... protegeu-me sem me sufocar, acompanhou-me sem me apontar o caminho, orientou-me respeitando sempre a minha privacidade e os erros e estimulando-me sem me obrigar a nada... eu herdei muito dele. O amor pela escrita e pela fotografia, (quando encontrei o equilíbrio interior que me levou a escrever!), o que ele, por seu lado, nunca parece ter conseguido, devido, em grande parte, a um casamento conflituoso, e a uma mulher que nunca o entendeu e lhe destruiu grande parte do que realizou devido a preconceitos muito em voga na época e ainda hoje, a medos infundados,... que não deixam as pessoas interpretar inteligentemente aquilo que se lhes depara. Não admira que tivesse desistido...


publicado por fatimanascimento às 06:11
Segunda-feira, 27 de Novembro de 2006











Que posso eu dizer sobre mim? Não estou habituada a falar de mim própria, talvez nem seja a pessoa adequada para o fazer. Não quero dizer com isto que não o faça com imparcialidade, pois costumo ser bastante dura comigo própria, séria, honesta... só que não gosto de falar de mim, mas vou tentar! Aqui vai... Não sou diferente dos outros e também não sou igual a eles! Não sou bonita, também não me considero feia. Não sou alta, também não sou baixa. Não sou gorda, também não sou magra. Não sou elegante, mas estou contente com as minhas formas naturais. Não sou vaidosa, mas gosto de me sentir bem. Não sou orgulhosa, mas também não sou humilde. Não sou alegre, mas também não sou uma pessoa triste. Gosto de brincar, mas não é sempre. Não sou muito culta, mas sei muita coisa. Gosto de pensar, mas não de divagar em assuntos estéreis. Gosto de me divertir, mas detesto os abusos. Tenho muitos conhecidos, mas poucos amigos! Gosto de estar com amigos, mas preciso de tempo para mim. Demoro a conhecer as pessoas, mas, mais tarde ou mais cedo, chego lá. Não suporto a traição mas tive (e tenho) de viver com ela, e vem de todos os lados e quando menos esperamos! Sou solidária, mas detesto ser enganada! Tenho sentido de humor, mas não sou superficial ou irónica. Não sou uma crítica impiedosa, mas consigo ver o ridículo das situações. Amo Deus, mas não sou fanática. Acredito em todas as religiões, desde que defendam a felicidade do ser humano. Penso profundamente, mas o mais abertamente possível. Acredito no ser humano, mas... não em todos e, sobretudo, não agora, ... um dia, o ser humano chegará lá! Gosto de trabalhar, mas não vivo para o trabalho. Acredito no casamento, mas encontrei a pessoa errada. Acredito na felicidade, mas não encontrei uma duradoura! Acredito no amor, desde que verdadeiro. Gosto de comer, mas tenho problemas digestivos. Gosto de cozinha estrangeira, mas prefiro a portuguesa, a italiana e a chinesa. Gosto de beber de vez em quando, mas, para mim, as bebidas são para saborear, não para beber… Adoro viajar, mas com tempo. Faço caminhadas a pé, mas preciso de uma boa companhia ou faço-as sozinha. Gosto muito de conhecer pessoas, mas dispenso as que tratam os outros como objectos descartáveis. Sou curiosa, mas utilizo a curiosidade de forma útil. Gosto de rir abertamente, mas não me rio das pessoas. Gosto de conhecer o próximo, mas para o ajudar e não para o manipular. Gosto de todo o tipo de música, desde que esta seja melodiosa. Leio todo o género de livros, desde que o estilo e o tema me cativem. Leio poesia, mas prefiro-a simples. Tolero todo o tipo de pessoas, desde que não me prejudiquem. Gosto de animais, mas não tenho muito espaço (nem tempo!) para cuidar deles. Gosto de jardinagem, mas o cão estraga tudo! Gosto de tirar fotografias, mas a revelação é cara! Gosto de cinema, mas não de todo o tipo de filmes. Gosto de ir ao cinema e ao teatro mas o tempo é pouco (e o dinheiro!). Gosto da minha casa, mas o crédito leva-me o salário todo! Sou positiva, mas também conheço os meus momentos de desânimo. Sou sonhadora, mas tenho os pés bem poisados na terra. Sou meiga, mas, se estou chateada, sou distante. Sou distraída, mas não sou estúpida. Sou boa mãe, mas julgo que posso sempre fazer mais…e tenho sorte com os filhos que tenho: são boas pessoas! Sou paciente, mas não para a má vontade! Gosto de desporto, mas não faço com regularidade. Gosto de cavalos, mas tenho medo (deve ser do tamanho!)! Poderia continuar a falar de mim, mas já chega... Fátima Nascimento, in http://aragens.blogspot.com



publicado por fatimanascimento às 07:23
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