Com a escola primária, chegou a catequese. Era ao final das tardes de Inverno, e lá ia eu, juntamente com as pequenas vizinhas, mais ou menos da minha idade, carregando o pequeno manual rectangular, com maravilhosas imagens coloridas. Era uma hora de viagem intensa aos tempos bíblicos, embalada pela voz simpática da catequista. Era alta e esguia e sempre nos acolhia com um sorriso. No final, todas procurávamos dar-lhe a mão, ao mesmo tempo que descíamos a íngreme escada de madeira gasta, bem seguras ao inseguro corrimão escuro de ferro, do velho e enorme palacete, de três andares rasgados por janelas altas e largas, e todo pintado de branco. A nossa sala era um cubículo do sótão, onde nos esperavam umas cadeiras pequenas, colocadas em círculo. Éramos sempre os últimos a chegar, despedindo, pelo caminho, a imensa e colorida multidão de gaiatos que se dispersava pelos andares, com um breve “Até já! Eu espero-te lá em baixo.” Acumulávamo-nos à porta, a última do pequeno corredor, do lado esquerdo, esperando pacientemente a catequista, algures, perdida na esforçada subida, acompanhando o ritmo lento das outras crianças. Quando chegava, era a alegria, abria-se a porta, acomodávamo-nos e preparávamo-nos para ouvir. A seguir à história, surgiam as questões, à luz trémula da lâmpada, suportada por um débil quadro eléctrico, agarrada no tecto inclinado, que coava o ruído dos pingos de chuva, nas tardes de invernia. A nossa pequena janela inclinava-se para a estreita rua da igreja de S. Pedro, mesmo em frente da central de autocarros da família Clara. Era nesse minúsculo e aconchegante cubículo, que decorriam, cada sábado, ao final da tarde, as nossas lições. Nós amávamos aquele espaço, que explorávamos, sempre que a lição de catequese terminava mais cedo, sob o olhar atento da catequista. Era a parte baixa do cubículo que atraía mais a nossa atenção, para onde nos deslocávamos, com o mínimo de ruído, encolhidas, evitando que as cabeças roçassem as traves de madeira.
Com a chegada a Primavera, anunciou-se a primeira comunhão e a questão do fato, do qual nos foram dadas algumas instruções. O meu era uma simples réplica branca e alugada do traje de noviça. Levei-o para casa, na véspera, onde esperou, pacientemente, pelo grande dia. E este chegou ensolarado e quente. Vesti o imaculado fato, cingido, na cintura, por um cordão branco grosso, e coloquei o véu na cabeça. Nos pés, as meias brancas de renda, apertadas nas sandálias da mesma cor. Parecia uma noviça em miniatura.
No ar, o agradável cheiro a flor de laranjeira entranhava-se nas narinas, abençoando aquele dia importante nas nossas vidas.
Fomos até à igreja, onde nos esperava o senhor padre Búzio, sempre terno connosco, impecavelmente vestido na sua indumentária católica, ricamente decorada. Na igreja cheia, fomos conduzidas aos nossos bancos, sob o olhar atento e simpático do padre, para junto das respectivas catequista. O burburinho que enchia a igreja, traduzia toda a emoção e excitação vividas por nós e pelos nossos familiares. Fiquei no conjunto de bancos laterais, do lado direito, quando se entra na igreja. Os cânticos e a homilia direccionadas para aquela comemoração, encheram-nos de ânimo, evidenciando a importância daquele dia, nas nossas vidas. O momento que mais esperava e receava era o da tomada da hóstia, temendo que, na minha falta de destreza, a pudesse deixar cair ao chão. Abri a pequena boca o mais que pude, e regressei ao meu lugar, de rosto radiante, acompanhada de um dos cânticos que mais amava.
Terminada a celebração, a multidão dispersou-se, em família, para continuar os festejos ao sol daquele agradável dia primaveril. Da minha família, ninguém compareceu. As casas das minhas vizinhas ressoavam a alegria que contrastava com a calma da minha e que eu partilhei, por momentos.
A noite desceu tranquila e, com ela, a necessidade de despir o imaculado hábito alugado. Foi com tristeza que me separei dele e o depositei cuidadosamente em cima da cadeira, sendo arrumado, de seguida, dentro da caixa, para ser entregue no dia seguinte, aos donos. Tive pena de me separar dele.
Com a chegada a Primavera, anunciou-se a primeira comunhão e a questão do fato, do qual nos foram dadas algumas instruções. O meu era uma simples réplica branca e alugada do traje de noviça. Levei-o para casa, na véspera, onde esperou, pacientemente, pelo grande dia. E este chegou ensolarado e quente. Vesti o imaculado fato, cingido, na cintura, por um cordão branco grosso, e coloquei o véu na cabeça. Nos pés, as meias brancas de renda, apertadas nas sandálias da mesma cor. Parecia uma noviça em miniatura.
No ar, o agradável cheiro a flor de laranjeira entranhava-se nas narinas, abençoando aquele dia importante nas nossas vidas.
Fomos até à igreja, onde nos esperava o senhor padre Búzio, sempre terno connosco, impecavelmente vestido na sua indumentária católica, ricamente decorada. Na igreja cheia, fomos conduzidas aos nossos bancos, sob o olhar atento e simpático do padre, para junto das respectivas catequista. O burburinho que enchia a igreja, traduzia toda a emoção e excitação vividas por nós e pelos nossos familiares. Fiquei no conjunto de bancos laterais, do lado direito, quando se entra na igreja. Os cânticos e a homilia direccionadas para aquela comemoração, encheram-nos de ânimo, evidenciando a importância daquele dia, nas nossas vidas. O momento que mais esperava e receava era o da tomada da hóstia, temendo que, na minha falta de destreza, a pudesse deixar cair ao chão. Abri a pequena boca o mais que pude, e regressei ao meu lugar, de rosto radiante, acompanhada de um dos cânticos que mais amava.
Terminada a celebração, a multidão dispersou-se, em família, para continuar os festejos ao sol daquele agradável dia primaveril. Da minha família, ninguém compareceu. As casas das minhas vizinhas ressoavam a alegria que contrastava com a calma da minha e que eu partilhei, por momentos.
A noite desceu tranquila e, com ela, a necessidade de despir o imaculado hábito alugado. Foi com tristeza que me separei dele e o depositei cuidadosamente em cima da cadeira, sendo arrumado, de seguida, dentro da caixa, para ser entregue no dia seguinte, aos donos. Tive pena de me separar dele.