Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007
Sempre fui da opinião que os meus filhos não são grandes estudantes, no sentido de tirarem boas notas, mas são boas pessoas, e é disto que eu me orgulho mais. O pilar dos três é a minha filha do meio, cuja estrutura emocional e maturidade já se desenham a traços fundos no seu carácter. Com apenas treze anos, ela já tem obrigações que muitos outros não conhecem antes do final da adolescência, pelos mais diversos motivos. Mas não foi só agora, que ela começou a trilhar o difícil caminho da vida. Ela tinha apenas oito anos quando me separei e, com o nascimento da irmã, ela revelou-se não só uma irmã atenta e carinhosa, como também uma segunda e pequena mãe, iniciando-se cautelosamente no mundo das fraldas. Nunca mais brincou com bonecas. Com a deterioração da qualidade da nossa vida, ela, na minha ausência, tomou o meu lugar, como dona de casa, tentando imitar-me em tudo. Às vezes, tenho medo de estar a sobrecarregar os seus ainda tenros e ternos ombros, mas como a vida é implacável, e não tem pena de nada nem de ninguém, cá nos vamos virando. Agora com o meu novo emprego de horário flexível e ganho incerto, as suas responsabilidades aumentaram imenso, em casa. E, com a doença do avô, mais uma responsabilidade caiu sobre ela. Alzheimer é uma doença estranha e deve ter muitas facetas, e ela está a lidar desde já com ela, velando sozinha por ele, na ausência dos adultos. Admiro a forma como ela atravessa o espesso véu dos seus medos e enfrenta, mesmo vacilando, o inferno dos seus pânicos, para ser útil. Ela não deixa de ser, psicologicamente, muito parecida comigo, ultrapassando os obstáculos, quando é possível ultrapassá-los, vencendo primeiro o seu medo e, depois, enfrentando a vida. A minha admiração é que ela mantém-se um rochedo frente às implacáveis investidas das gigantes ondas da vida. O que mais admiro é a sua coragem e integridade no meio do tornado que assola as nossas vidas. Faz-me lembrar um guerreiro medieval, lutando pelos seus seus ideais. Um pormenor que mostra como ela cresceu, é os filmes que ela já vê, e onde ela vai também ganhar força, trocando-os, de vez em quando, pelos juvenis, como se não quisesse perder totalmente, o contacto o comportamento adolescente típico dos gaiatos da sua idade. E ela é já tão adulta para sua idade, que, às vezes, tenho medo. Já não suporta certas brincadeiras dos colegas que classifica de infantis. A adolescência que deveria ser uma passagem calma da vida infantil à dos adultos, está para ela, a decorrer a um ritmo avassalador, empurrando-a sempre para a frente, para o mundo indescritivelmente perigoso dos adultos. Espero que ela tenha tempo para realizar também a transição emocional, tão necessária a esta fase da sua vida. E a vida tem puxado tanto por ela...
Olhos grandes, atentos e expressivos de um cinzento indefinido, azulado ou esverdeado em certas épocas do ano, sombreados por grossas sobrancelhas descaídas nos cantos, a boca torneada de lábios grossos e suaves, ligeiramente aberta, a testa larga, as maçãs do rosto salientes, separadas pelo nariz ligeiramente largo, as linhas do rosto suavemente desenhadas, ligeiramente cobertas pelo cabelo loiro escuro caído nos ombros como uma cascata brilhante, levemente ondulada e matizada, um queixo suave e estreito fazem da adolescente uma beleza natural.
O carácter recto, suave e meigo, matizado por uma alegria e um sentido de humor inteligentes, misturado com uma determinação sensata, uma coragem tímida, revelando-se integralmente numa coragem frontal nos momentos injustos ou excessivos, confundindo-se com revolta ou indisciplina; leal e companheira, solidária, impaciente frente à má vontade, paciente e protectora com os mais fracos, de uma imaginação selvagem e desenfreada revelada na escrita e na arrojada fotografia, a escrita dotada de uma força vertiginosa e sensível, captando a atenção desde as primeiras linhas, mas logo derrotada pelos assuntos transcendentes… assim é a minha filha do meio. Com treze tenros anos, uma altura e um corpo de dezassete, esta menina-mulher caminha um caminho ainda recto, procurando ora desviar-se dos temporais, insistentes assoladores da sua ainda curta vida, ora avaliando-os com a frontalidade ou o desprezo que lhe despertam, ela luta pela sua felicidade, sempre coerente consigo própria, mesmo quando o mundo à sua volta parece desabar. Cresceu e amadureceu muito depressa, a maior companheira que alguém pode desejar. Agradável e educada no convívio com estranhos. Despegada dos estudos, mas dotada de uma marcante memória, ela consegue verdadeiros feitos. Tão diferente e tão semelhante a mim, o meu braço direito desde há cinco anos para cá, desempenhou os mais variados papéis. E sempre bem… olhando à sua tão frágil idade e aos momentos difíceis pelos quais teve de passar, mantendo-se sempre fiel a si mesma.


publicado por fatimanascimento às 07:23
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